quarta-feira, 3 de junho de 2020

O problema é o “na verdade”.


Muitas pessoas estão começando sua frase com “na verdade”. É uma expressão que tenho ouvido ultimamente e está me incomodando. Não pelo fato de concordar ou não concordar e sim porque outras pessoas não consideram o que veio depois uma verdade.
Como assim “na verdade”? A sua verdade, a minha verdade, a verdade dele...
Na verdade, a direita tem razão!
Ué!? Não pode ter gente de esquerda ou centro? Elas estão erradas quando têm outra visão sobre política? Se vivem em um local que precisa de assistência social e de maior distribuição de renda, a tendência é seguir outra forma de política que não é a direita.
Na verdade, o cristianismo está correto!
As pessoas que nasceram em outros lugares ou com familiares que seguem outra religião sofrem essa influência e podem seguir o espiritismo, islamismo, budismo, hinduísmo etc.
Na verdade, o correto é ser hétero.
As pessoas não escolhem se vão ser hétero, bi, gay... Simplesmente nascem dessa forma e quando atingem uma idade de afloramento sexual deixam mais claro sua tendência ou até tentam não exibir para não sofrerem preconceito.
Ser maioria não significa estar certo ou errado, é apenas uma escolha, alguma influência do meio em que vive ou nasceu assim. Pode ter sido influenciado por familiares e/ou amigos, ou até mesmo do local em que vive pela proximidade com o seu time de futebol ou escola de samba.
Isso vai se desenvolvendo em seu interior de forma imperceptível e é passível de mudança conforme as informações que recebemos ou orientações que procuramos. Então acabamos por acrescentar algo em nosso caráter que não tínhamos antes.
Eu uma vez li sobre etnocentrismo e percebi que a maioria das pessoas não conseguem ter essa percepção de que estão sendo influenciadas pelo meio em que vivem para desenvolver suas opiniões e escolhas, então simplesmente só consideram correto ou mais importante apenas o que escolheu ou acredita e descarta qualquer outa forma de comportamento, mesmo sendo do seu próximo, acreditando que o outro não tem ou é de menor importância.
Então, o “na verdade” pode até estar no seu interior, mas quando é exposto incomoda. Até porque não existe verdade absoluta.



Wallace Freitas

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