Crítica ao Capitalismo
O capitalismo precisa do crescimento continuo da produção e,
portanto, do consumo, para se sustentar a si mesmo. Os benefícios daí colhidos
sob a forma de tecnologia e melhoria das condições de vida são óbvios e
palpáveis no Ocidente rico. Mas, dizem as vozes discordantes, o preço está a
revelar-se demasiado elevado, especialmente em termos de danos infligidos ao
ambiente, da dívida paralisante do terceiro mundo, das disparidades
insustentáveis entre ricos e pobres, e do efeito destrutivo provocado nas comunidades
pela transformação das pessoas em bens e das relações sociais em transações
comerciais. As vozes discordantes conseguem citar incessante e
perturbadoramente números sobre danos ambientais, pobreza, desperdício e
exploração do terceiro mundo! Os factos sobre a horrenda perda anual de área da
floresta virgem, as crianças asiáticas que cosem, por uns poucos cêntimos
diários, as bolas de futebol com que as nossas próprias crianças brincam e as
fomes dos países do terceiro mundo devidas à substituição da agricultura de
subsistência por culturas de exportação, são já bem conhecidos. Menos conhecidos
são factos como o homem mais rico do México ter mais dinheiro do que as
dezessete milhões de seus compatriotas mais pobres todos juntos e os pagamentos
anuais das dívidas de muitos países pobres ultrapassarem em muito o que eles
podem gastar em saúde e educação. Considerações deste tipo revelam de forma
violenta a injustiça e instabilidade da ordem econômica mundial, obrigando-nos
a perguntar não se deverá esta ser alterada, mas como.
O marketing transformam-nos em criaturas ansiosas mas dóceis, a quem falsamente se faz crer que o caminho para o paraíso passa por comprar coisas comentadores e os filósofos condenam o desperdício, a sandice, a falsa consciência da sociedade consumista e a sua transformação das pessoas em vítimas, que descrevem como uma conspiração que nos empurra para o trabalho, para podermos comprar as migalhas de prazer que o sistema deixa cair das mesas daqueles cujos produtos desnecessários compramos. E, entretanto, somos inundados de lixo e poluição, enquanto nos sentamos à luz tremeluzente dos anúncios televisivos, comendo os nossos jantares insalubres preparados nos micro-ondas.
Retirado do livro “O Significado das Coisas", de A. C.
Grayling