sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Somos parentes, não descendentes dos primatas atuais.

 

Ardipithecus ramidus – reconstruction


Afirmar que seres humanos são descendentes de macacos é um erro, Charles Darwin jamais disse isso na sua Teoria da Evolução. Quem adora fazê-la são os criacionistas, aqueles que acreditam na criação divina – o homem moldado por Deus a sua imagem e semelhança. Embora chimpanzés e gorilas modernos lembrem bastante as criaturas que deram origem ao homem, nenhum deles é nosso ancestral. Segundo os estudos mais recentes, baseados em fósseis e análises de DNA, há cerca de 7 milhões de anos a África era habitada por um tipo de primata do qual descendem tanto o homem quanto os chimpanzés e bonobos atuais. Mas temos com esses bichos, isto sim, um antepassado em comum. Se pudéssemos ressuscitá-lo, a criatura seguramente se pareceria com um macaco – afinal, ela também foi uma espécie de primata. Mas teria detalhes anatômicos que não existem em nenhum animal que conhecemos hoje. Sob vários aspectos, ele lembraria um chimpanzé. Seria coberto de pelos, por exemplo, e provavelmente teria um cérebro relativamente pequeno. Por outro lado, alguns dos fósseis mais antigos da linhagem humana – como o Ardipithecus ramidus, de 4,4 milhões de anos – sugerem que talvez não tivesse outras características dos macacos atuais, como o hábito de andar apoiado nos nós dos dedos. O conceito equivocado de que “viemos dos macacos” tem origem na ideia mais equivocada ainda de que a evolução é um processo linear, no qual novas espécies vão substituindo outras. Ora, os humanos não substituíram chimpanzés, gorilas ou orangotangos. Esses animais estão por aí, dividindo o planeta conosco. O que ocorreu é que nosso ancestral comum acabou dando origem a duas linhagens distintas (provavelmente em virtude de mudanças climáticas e outros fatores ambientais). Uma delas seguiu a trilha evolutiva que resultaria nos macacos de hoje. A outra, contudo, percorreu um caminho diferente, até chegar ao homem moderno. De acordo com arqueólogos e antropólogos, foi só nos últimos 10 mil anos – com o advento da agricultura e o surgimento das grandes civilizações – que a “solução” representada pelo Homo sapiens realmente se mostrou mais bem-sucedida que as outras espécies. Ou seja: somos primatas, sim, tanto quanto os chimpanzés. Até nossos genes são quase os mesmos, 90% iguais. Tivemos um antepassado em comum, só isso.